20 de out. de 2016

AFROTRANSCENDER (1 ano atrás)

O convite para inscrição veio junto com uma imagem magnética. Aquela negra de asas expressava pensamentos e sentimentos que vinham fazendo parte do meu momento. Aquela imagem traduzia os meus desejos de conexão (raízes e asas). Inscrevi! Quando soube que havia sido selecionada foi um misto de alegria e responsabilidade. Para fazer parte daqueles 20+1 eu me dispus a imergir verdadeiramente e, quem sabe, transcender.
Havia em mim uma expectativa de acessar informações as quais eu desconhecia, de me familiarizar mais com tecnologias, mídias digitais, arte eletrônica, wi-fi e tantos outros recursos deste tempo contemporâneo. Mas mesmo com tantos pensamentos high tech eu tinha levado comigo meu tambor, meu coração.
Já no primeiro dia, na visita ao Museu  Afro Brasil, chorei ao ler um texto expondo uma  legislação para tratamento “humanizado”dos escravos.  Não que ali houvesse muitas novidades, mas lembrar que meus , avós, bisavós passaram por tudo aquilo e que está ainda tão próximo do tempo atual, dói.
Ainda no primeiro dia TC Silva nos explica que a maior tecnologia é o tambor.  E nos convida a ouvir uma canção, ao toque do seu tambor, de olhos fechados. Lembrei do meu coração.
Na noite deste mesmo dia, dentre outros vídeos, Vincent Moon exibe um vídeo de congadeiros mineiros. Vejo naquela tela minhas raízes e meu presente, o que sou.

Segundo dia, acordo com a cabeça a mil. Todos aqueles imersos ao meu redor me instigam, queria conhecer a alma deles, seus trabalhos.  Mas em três dias (ou talvez  mesmo em três vidas) isso não seria possível. Desacelero!
Paulo Nazareh, meu conterrâneo, um artista tão contemporâneo e tão ligado às suas raízes novamente me faz chorar. Almas livres, que não se encaixam nem encaixotam, consideradas como loucas, mortas em hospícios, seu corpos enterrados no solo para adubar e fortalecer raízes ou vendidos para experiências em universidades contemporâneas.
Na vivencia com Daniel Lima, dentre outras, sai a frase:  “você já assinou sua alforria hoje”?
Fechamos o dia com o Metabolismo Afro-simbólico de Moisés Patrício. Corpos dançaram em roda, entregues a sua essência ancestral. Desacelerei mais.

No terceiro dia cheguei coração e fui só tambor. Abrindo os trabalhos com o toque e canto forte de Mãe Beth de Oxum, tocamos nosso tambores e dançamos.
Ver Kbela, de Yasmin Thainá, foi nos ver mulheres negras vencedoras, assumindo nossas raízes expressas nos nossos cabelos crespos, com toda sua força poética.
Já na noite desse terceiro dia, Ricardo Brazileiro quando fala de tecnologia fala de afeto.  Nesse momento já não tinha mais espaço para dúvidas dentro de mim.

Meu corpo negro e político desde o ventre de minha mãe (bem lembrado por Diane Lima na primeira roda de conversa no primeiro dia) sempre esteve conectado às suas raízes.  A descoberta de minha responsabilidade como Mulher Negra,  o momento de assumir e ostentar meus cabelos crespos, a luta diária contra o racismo, a valorização da cultura negra, tudo isso faz parte da minha Raiz. E isso é o que alimenta minha arte!
Para afrotranscender saio dessa imersão com muitas inquietações (inspirações), pessoas e histórias para (re)conhecer, um mapa mental e uma resposta:
 Fortalecer a raiz, sempre. Raiz forte se encarrega do tronco, folhas e flores.
Sobre voar, é só fechar os olhos e silenciar.
Elisa, 21/10/2015







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